quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Bagagem cheia


Tinha quase dezoito anos e com um nome nada comum, era tão distraída e confusa, quieta, um verdadeiro mistério para todos. Não era a mais baixa e com certeza também não era mais alta, não tinha o cabelo perfeito e nem os olhos ideais. Não cantava bem, não sabia tocar, tinha tanto medo do escuro que dormia de luzes acessas. Dentro de si tinha uma revolta, uma vontade de ignorar as regras e ir mesmo ser feliz, mas isso não incluía nada de bebidas e coisas erradas, quebrar as regras consistia em agir da maneira que achasse melhor ignorando o que as pessoas acham e julgam, e se agisse assim ela saberia que não seria a primeira e nem a última vez que receberia críticas. A maioria das pessoas poderia considera-la banal, mas no fundo sabiam que não era, ela tinha um sonho, e a essa sensação de poder sonhar despertava outras vontades e anseios, era o momento de arriscar, ir atrás de um pôr do sol diferente e fugir sem previsões de volta, uma longa caminhada, pouco dinheiro no bolso, uma pequena bagagem e agora muitos sonhos. A sua vontade de conquistar um lugar no mundo era maior que o normal, muitos dias na estrada e uma decepção, em uma dessas curvas da vida se deixou desaminar e dizem que quando caímos uma vez é muito difícil de levantar sem alguém para te estender a mão.
Hoje ela já tem mais de vinte anos, escreve textos em um caderno velho que ela leva em uma bolsa, mora em um apartamento absurdamente pequeno e vive descontente, na sua bagagem o que restam são os sonhos. Talvez se ela não tivesse decidido seguir sozinha, naquele momento que ela caiu alguém estendesse a mão e hoje ela fosse verdadeiramente feliz.

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